Uma história em quadrinhos bem escrita não precisa necessariamente ter algum texto, seja ele em forma de recordatório ou balão, para ser compreendida.
Quando faço essa afirmação, também me coloco como uma leitora e pesquisadora que entende, assim como o Prof. Moacy Cirne, a calha/sarjeta como elemento fundamental dessa mídia, não o balão. A calha permite que o leitor construa a história – e dê seu próprio ritmo a ela – junto com o autor.
Os mais radicais vão me lembrar que as histórias em quadrinhos utilizam imagens e textos para passar uma mensagem, pois o texto vem, muitas vezes, como um reforço da própria imagem. Tudo bem. Às vezes é necessário se acrescentar palavras, mas às vezes não. Principalmente quando o roteirista é o genovês Giancarlo Berardi.
Berardi tem um estilo único. Seus roteiros são tão bem escritos e suas parcerias com desenhistas tão sintonizadas que terminam por sincronizar, de forma ímpar, a idéia da ação e a sua representação. E o parceiro mais longevo de Berardi é o desenhista Ivo Milazzo, seu conterrâneo.
Ao se ler os quatro volumes dos especiais de Ken Parker – Os Filhotes, A lua da magnólia em flor, Soleado e Pálidas Sombras –, lançados com tiragem limitada pela Cluq, entre 2007 e 2008 (cada um custando R$ 30,00), vivenciamos situações dramáticas tão intensas quanto uma peça de Shakespeare ou de Tennessee Williams, e filmes de Vittorio De Sica ou de John Ford.
Como na maioria das aventuras de Ken Parker, nem sempre o destaque fica sobre Rifle Comprido. Nessas quatro edições especiais (Os Filhotes já havia sido publicado com o título Os cervos, mas os outros três volumes eram publicações até então inéditas, no Brasil), é o romantismo quem dá o tom principal, por isso a natureza – fauna e flora – termina sendo a personagem central das histórias.
Todas as histórias são compostas por belíssimas imagens em aquarela, emulando poesia antitética entre os tons claros e suaves e a realidade das passagens retratadas. E as imagens bastam porque Milazzo consegue transmitir toda a emoção necessária a cada cena, tal qual Chaplin, que não precisava falar em seus filmes para se fazer entender.
Para se ler qualquer história da dupla Berardi e Milazzo o requisito é treinar não apenas o olhar, mas sim o coração.
2 comentários:
Achei então o blog com a postagem original!!
:)
Segue aqui o mesmo convite que fiz no outro.
Olá Milena, tudo bem?
Excelente seu texto!
Sou um dos editores do KEN PARKERBlog, e gostaria de publicar seu texto em nosso blog.
Uma analíse tão rica e tão bem escrita, que merece figurar no blog de Rifle Comprido.
Assim, como Berardi e Milazzo, precisam ler seu texto.
E acreditem, eles dão uma olhada sim em nosso blog.
Em matéria recente, você pode ver duas belissimas ilustrações que um amigo me fez de presente, e Berardi respondeu prontamente um e-mail que mandamos, falando sobre a arte do meu amigo.
Se quiser conferir as artes, eis o link da matéria:
http://kenparker.blogspot.com/2009/03/berardi-e-milazzo-precisam-ver-adauto.html
Se permitir que publique seu texto, com os devidos créditos, me envia um e-mail.
Fico no aguardo de uma resposta sua.
Obrigado.
Lucas
Muito obrigada, Lucas. Sinto-me honrada em poder participar do blog do Ken Parker.
Já estou lhe enviando o texto.
[]s,
Milena
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