Nunca se viu tanta adaptação literária para a nona arte como nessa primeira década do século XXI. Há obras belíssimas, mas, em contrapartida, há outras que merecem apenas uma reles folheada.
O “boom” dessas adaptações é justamente a possibilidade de se vender um “pacotão” para as escolas públicas, embora quem faça a seleção nem sempre leia o material que tem em mãos e as lambanças aconteçam, como se viu no episódio da coletânea Dez na área, um na banheira e nenhum no gol, que foi erroneamente indicada para alunos do terceiro ano do ensino fundamental, pela Secretaria de Educação de São Paulo, tendo o governador José Serra ido à TV dizer que era uma obra “de muito mau gosto”. Faça-me o favor. Lembro que Dez na área, um na banheira e nenhum no gol não é uma adaptação, mas precisei citá-la aqui para ilustrar essa débil prática de seleção feita no Brasil, que se baseia na capa da revista e na leitura do prefácio da mesma, que veio à tona devido a essa polêmica.
Voltando às adaptações, vamos falar de uma muito bem feita: Jubiabá (Quadrinhos na Cia., 95 páginas, colorida, R$ 33,00). Jubiabá é um romance de Jorge Amado, publicado em 1935, que o quadrinista Spacca roteirizou, desenhou e coloriu no período de um ano e meio, e que marca a primeira investida do selo Quadrinhos na Cia. nas pratas da casa.
Em Jubiabá, conhecemos o ABC de Antônio Balduíno, o Baldo, um negro órfão, criado pela tia. Essa tia incorporou um “espírito” e foi parar no hospício, deixando Baldo sozinho no mundo. Mas o moleque travesso, que queria virar lobisomem, foi chamado para trabalhar na casa do Comendador Pereira. Lá, conheceu o mundo dos brancos e jurou nunca mais se deixar subjugar a ele. Passou boa parte da vida como malandro profissional. Chegou a fazer fama passageira como lutador de boxe e depois foi trabalhar em uma plantação de fumo e no circo. Tudo para esquecer Lindinalva, a filha do Comendador Pereira, seu grande amor.
Com a morte de Lindinalva, Baldo finalmente arranja um emprego sério. Vai ser estivador. Em pouco tempo de batente, uma greve tem início e Baldo descobre que, juntos, os trabalhadores tem força; e a força deles é a arma contra a opressão dos patrões. Descobre-se gente. Percebe que pode viver no mundo dos brancos sem ter que abaixar a cabeça, e assim torna-se verdadeiramente livre.
Poucos sabem que Jorge Amado teve uma estreita relação com as histórias
O fato mais curioso dessa história é que na década de 1950, para mostrar à sociedade que a leitura dos quadrinhos era algo benéfico à juventude, Aizen investiu em um grande número de adaptações de obras nacionais para quadrinhos, nas páginas da Edição Maravilhosa. No entanto, a rigidez da autocensura que Aizen estabeleceu, não permitiu que a adaptação de Jubiabá fosse publicada. Anos mais tarde, houve uma segunda adaptação de Jubiabá. Essa, com roteiro de Fernando Albagli e desenhos do mestre Eugenio Colonesse, que não chegou a ser publicada por falta de interesse editorial, como nos conta Gonçalo Junior, em A guerra dos gibis.
Spacca ganha todos os méritos por concretizar a publicação dessa adaptação, retratando fielmente a Bahia dos anos
Quem não conhece o trabalho do Spacca, pode conferir, além de Jubiabá, D. João Carioca, Debret – viagem histórica e quadrinhesca ao Brasil e Santô e os pais da aviação, todos três editados pela Cia. das Letras.
Um comentário:
Milena, Jubiabá foi a única obra de Jorje Amado que eu gostei verdadeiramente. Ainda bem que tem uma boa adaptação!
Postar um comentário