sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Coringa: no limite da sanidade

Fazer uma história em quadrinhos do Batman, na qual o Coringa roube a cena, não é novidade. Mas fazer uma história que prenda o leitor, mesmo ele sabendo qual será o seu desfecho, isso é competência. E Brian Azzarello é um cara competente. Não foi à toa todos os prêmios que ele ganhou por 100 Balas. O noir é sua praia, sua casa, sua razão de estar no mundo.

Ao escrever Batman: cidade castigada, em parceria com o “comparsa” Eduardo Risso, o desenhista de 100 Balas, Azzarello desandou um pouco, mas ao revisitar o universo de Gotham City, tomando o Coringa como o personagem central, ele fez uma das melhores histórias do “Palhaço do crime” desde A Piada Mortal.

Na graphic novel Coringa (130 páginas, colorido, capa dura), editada pela Panini, o insano de sorriso largo é liberado do Arkhan porque, segundo suas próprias palavras, “não é mais doido, apenas louco”. E parte para recuperar os seus bens, que foram repartidos entre a bandidagem de Gotham, e tomar a sua cidade nos braços novamente, para com ela dançar uma valsa sob o pálido luar. Para ajudá-lo nessa empreitada, tem como capacho um bandido meia-boca, chamado Jonny Frost, sua desequilibrada namorada Arlequina e o sanguinário Crocodilo.

É pelo olhar de Jonny Frost que vamos sendo conduzidos à vingança do Coringa, que não pensa duas vezes em ameaçar, matar e explodir seus inimigos do crime. Um Coringa, diga-se de passagem, muito próximo à interpretação e ao visual de Heath Ledger em Batman – o cavaleiro das trevas, ou seja, um sujeito que enxerga a realidade de forma clara e precisa e, por isso, enlouquece. Porém, não se torna escravo de sua demência, pelo contrário, usa-a como desculpa para seus atos hediondos.

E tal qual o segundo filme do “Morcegão”, dirigido por Christopher Nolan, o personagem-chave da história é o Duas Caras. Mais uma vez ele é o divisor de águas entre a loucura sã do Coringa e a sanidade demente do Batman. Outros bandidos famosos tiveram participação especial na citada graphic novel, o Pingüim (que, em alguns requadros, assemelha-se a Hitler, sem o bigode) e o Charada (no visual mais cool já apresentado até hoje).

Para complementar o roteiro de Azzarello, Lee Bermejo capricha na arte e Patricia Mulvihill escolhe uma paleta de cores quentes, que em determinados momentos se cruza com outra de cores frias, totalmente apropriada paras as instabilidades emocionais do Coringa e para marcar os “turning points” da história.

Mesmo que esse título tenha sido lançado para pegar carona no sucesso de Batman – o cavaleiro das trevas, é tão bom que nem precisava desse “subterfúgio”.

Embora eu tenha lido essa graphic novel com alguns meses de atraso, toda a espera valeu.

2 comentários:

Nuno Amado disse...

Olá Milena
Só irei comprar esse livro quando passar essa febre. Eu não quero comprar esse livro numa altura em que se tentou elevar o livro para patamares teóricos muito elevados!
Não quero ficar com aquele sentimento de engano, que se dá quando se lê um livro super gabado por toda a gente. Assim, daqui a dois anos eu compro!
:D
Já passou a euforia...

Milena Azevedo disse...

Mesmo com todo o oba-oba, Nuno, é uma graphic novel muito boa. Eu também fiquei com um pé atrás devido à enxurrada de lançamentos de títulos relacioandos ao Batman, no início desse ano, tanto que só agora comprei essa do Coringa. Mas, pode acreditar, vale a pena. É fixe, como vocês dizem.