quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sem palavras

Uma história em quadrinhos bem escrita não precisa necessariamente ter algum texto, seja ele em forma de recordatório ou balão, para ser compreendida.

Quando faço essa afirmação, também me coloco como uma leitora e pesquisadora que entende, assim como o Prof. Moacy Cirne, a calha/sarjeta como elemento fundamental dessa mídia, não o balão. A calha permite que o leitor construa a história – e dê seu próprio ritmo a ela – junto com o autor.

Os mais radicais vão me lembrar que as histórias em quadrinhos utilizam imagens e textos para passar uma mensagem, pois o texto vem, muitas vezes, como um reforço da própria imagem. Tudo bem. Às vezes é necessário se acrescentar palavras, mas às vezes não. Principalmente quando o roteirista é o genovês Giancarlo Berardi.

Berardi tem um estilo único. Seus roteiros são tão bem escritos e suas parcerias com desenhistas tão sintonizadas que terminam por sincronizar, de forma ímpar, a idéia da ação e a sua representação. E o parceiro mais longevo de Berardi é o desenhista Ivo Milazzo, seu conterrâneo.

Ao se ler os quatro volumes dos especiais de Ken Parker – Os Filhotes, A lua da magnólia em flor, Soleado e Pálidas Sombras –, lançados com tiragem limitada pela Cluq, entre 2007 e 2008 (cada um custando R$ 30,00), vivenciamos situações dramáticas tão intensas quanto uma peça de Shakespeare ou de Tennessee Williams, e filmes de Vittorio De Sica ou de John Ford.

Como na maioria das aventuras de Ken Parker, nem sempre o destaque fica sobre Rifle Comprido. Nessas quatro edições especiais (Os Filhotes já havia sido publicado com o título Os cervos, mas os outros três volumes eram publicações até então inéditas, no Brasil), é o romantismo quem dá o tom principal, por isso a natureza – fauna e flora – termina sendo a personagem central das histórias.

Em Os Filhotes, Ken Parker se vê cuidando, em pleno inverno, de uma família de cervos, cuja mãe ele havia alvejado; um casal de índios cruza o seu caminho e os méritos do guerreiro são colocados em diferentes pontos de vista, em A lua da magnólia em flor; Soleado mostra Ken Parker sobrevivendo sob o sol escaldante do deserto, procurando um cavalo para si; e Pálidas Sombras narra a relação entre caçador e caça – Ken Parker e um bisão – em meio a uma chuva torrencial.

Todas as histórias são compostas por belíssimas imagens em aquarela, emulando poesia antitética entre os tons claros e suaves e a realidade das passagens retratadas. E as imagens bastam porque Milazzo consegue transmitir toda a emoção necessária a cada cena, tal qual Chaplin, que não precisava falar em seus filmes para se fazer entender.

Para se ler qualquer história da dupla Berardi e Milazzo o requisito é treinar não apenas o olhar, mas sim o coração.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dos oito aos oitenta

Quem foi que disse que histórias em quadrinhos com animais fofinhos são exclusivamente leituras infanto-juvenis?

Tomo como exemplo as séries: Gon, Bone e Os Pequenos Guardiões, todas roteirizadas e desenhadas por seus próprios criadores.

Gon é um mangá de narrativa visual concebido a partir de 1991, por Masashi Tanaka, e conta com cinco tomos em preto e branco. Essa série ganhou importantes prêmios como o Ozamu Tezuka, em 1997, e os Eisner de Melhor Publicação de Humor, Melhor Artista e Melhor Publicação para o Público Jovem, em 1998. A Conrad Editora publicou, no Brasil, três tomos das aventuras desse dinossaurozinho irascível.

Não tem quem consiga ficar indiferente ao Gon, que em cada história convive com diversos animais, como pingüins, tartarugas e águias, sempre tentando ser aceito como um membro da família e protegendo os filhotes de hábeis predadores (sim, as histórias tem um certo nível de violência).

O lápis de Tanaka é tão realista que imprimi em nós a sensação de que aquele tiranossauro pode muito bem estar no alto de uma colina, no gelo polar ou no mar infestado de tubarões, em qualquer era geológica.

A série Bone, criação de Jeff Smith, é composta originalmente de 55 edições (no Brasil, a Editora Via Lettera publicou Bone – até o presente momento – em 12 álbuns e mais um especial, todos em preto e branco), tendo sido publicada entre 1991 e 2004, pela qual Smith ganhou os prêmios Harvey de Melhor Cartunista (nos anos de 1994, 1995, 1996, 1997, 1999, 2000 e 2003), e a série ganhou também os Harvey de Especial de Humor, em 1994, e de Melhor Coletânea (Bone: Complete Adventures), em 2004.

Bone conta a história de três primos bem distintos: Fone (o sentimental), Phoney (o capitalista) e Smiley (o bobalhão), que foram expulsos de Boneville e perambulam pelo mundo até que caem num vale, uma terra de contos-de-fada, e passam a interagir com uma princesa e sua avó, e até com dragões e ratazanas.

Jeff Smith desenvolveu um enredo aparentemente simples, que nos remete a romances de aventura e fantasia, como os de C.S Lewis e J.R.R.Tolkien, e fábulas à lá Irmãos Grimm. Seus personagens de traços arredondados cativam o leitor, convidando-o a participar da feira da primavera, da grande corrida das vacas e de uma conversa animada no Barrel Haven, além de rir à beça com a estupidez das ratazanas.

Pequenos Guardiões (Mouse Guard, no original) é a série sensação do momento, tendo ganhado os Eisner de Melhor Publicação Para Crianças e Melhor Republicação de Graphic Álbum, em 2008.

Criada por David Petersen, em 2006, Mouse Guard já conta com três arcos – Fall 1152, Winter 1152 e Black Axe 1099-1116, tendo o primeiro sido publicado aqui, em seis volumes coloridos e com papel couché, ao longo do ano de 2008, pela Conrad Editora.

A série mostra as aventuras dos ratinhos Saxon, Kenzie e Lieam, os quais fazem parte da Guarda, a elite militar que zela pela defesa de várias cidades e vilas medievais, cuja base é a fortaleza de Lockheaven.

As aventuras dos bravos ratinhos transmitem os valores da amizade, da lealdade, da honra, e da perseverança, contrastando-os com gestos menos nobres, como: traição, egoísmo e tirania, onde as palavras só aparecem quando há necessidade delas.

Nessas três séries citadas, apesar de o formato e o traço dos desenhos darem uma idéia de que são direcionadas apenas às crianças, na verdade são leituras que não tem prazo de validade ou uma idade específica para serem devoradas.

Para os marmanjos e as moçoilas que estiverem duvidando, é só arriscar uma folheada em qualquer uma delas. Não se surpreenda se você sair da comic shop com pelos menos dois volumes, de cada série, nas mãos.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O Teste (HQ de duas páginas)

O Teste foi uma HQ curta que eu escrevi e Wendell Cavalcanti desenhou ano passado (a primeira parceria nossa concretizada devido ao excesso de trabalho do amigo desenhista). Na verdade, O Teste foi uma brincadeira que fiz tomando como partida a surpresa da "virada de página", que o mestre Will Eisner tão bem ensinou. Bom, está ai pra ser lida e comentada. Talvez, seja publicada em alguma edição da revista Subversos.