sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Spirit com crise de identidade ?

A estreia do personagem The Spirit, criação do mestre Will Eisner, deu-se no dia 2 de junho de 1940, nas páginas dominicais do Detroit News. The Spirit surgiu como uma paródia aos pulps policiais, aos filmes noir e também ao recém criado gênero de super herois.

Will Eisner seguiu criando e desenhando aventuras do Spirit até 1950, intercalando aí momentos em que ele mesmo traçava as linhas do personagem com anos em que o seu estúdio precisou substituí-lo.

Com as inovações narrativas que Eisner trouxe aos quadrinhos nas páginas de The Spirit – enquadramentos, jogo de luz e sombra, a brincadeira estética com o próprio nome SPIRIT –, o personagem tornou-se bastante popular e ganhou uma relevância ímpar no meio quadrinístico internacional. É referência ainda hoje.

Frank Miller sabia de tudo isso. E melhor do que ninguém, porque era amigo do Will Eisner. Mesmo assim ele insistiu em fazer uma adaptação do Spirit para o cinema, com a proposta de atualizar o personagem. Bom, se fosse uma atualização propriamente dita até que dava para encarar, mas o que Miller fez foi uma descaracterização do universo do Spirit, reinventando-o aos moldes da sua premiada série de quadrinhos Sin City.

Aqueles que já tiveram contato com alguma história do Spirit e estão familiarizados com o Comissário Dollan, a Ellen Dollan, o Ebony, a P´Gell, a Sand Saref, o Octopus e Central City, já ficaram chocados só em ver o trailer do filme do Frank Miller. A estética semelhante ao extremo ao filme Sin City – no qual Miller começou a brincar de diretor de cinema – fez com que muitos fãs torcessem o nariz e bradassem: LIXO!

É sempre bom a gente ver a obra toda antes de julgá-la, por isso confesso que baixei The Spirit – aqui em Natal não foi e acredito que nem será exibido nos cinemas – e o assisti na íntegra. Fiz mais, reassisti. E mesmo assim não consigo acreditar no que vi (e no que não vi). Cadê o Denny Colt brincalhão dos quadrinhos? Ebony nem sequer foi mencionado. O corpo do Octopus foi revelado. E o pior, o sol de Central City foi encoberto.

Uma adaptação, para ser considerada boa, precisa respeitar as características gerais da obra base, de seus personagens, de seu cenário. Não estou afirmando que precisa ser uma cópia fidedigna, pois há diferenças entre as mídias, mas que seja, no mínino, coerente.

Sou a favor das releituras, pois assim como os mitos, os super herois precisam ser atualizados de tempos em tempos, adaptando-se aos novos contextos e às novas gerações. Um belo exemplo de atualização de um personagem é o trabalho do Grant Morrison e do Frank Quitely em Grandes Astros Superman. É a mesma história contada de uma forma original.

The Spirit, o filme escrito e dirigido por Frank Miller, é um bom filme apenas para quem não conhece absolutamente nada do personagem da década de 1940. Miller força a barra com referências a Avenida Dropsie, Elektra e até a estética dos mangás, em algumas cenas. Lamentável.

Faço minha a força da imagem sarcástica desenhada e colorizada pelo J.J. Marreiro e pelo Flávio Teixeira de Jesus.

Não preciso dizer mais nada.

Nenhum comentário: