terça-feira, 23 de junho de 2009

A angustiante arte de crescer

Seja numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos ou numa grande capital brasileira, crescer é uma aventura. Aventura essa repleta de nuances tragicômicas. Expor a transição da infância para a adolescência e dessa para a vida adulta pode ser terrível para a maioria de nós, pois nos força a encarar todas as situações pelas quais passamos. No entanto, ao refazer esse trajeto, temos a chance de combater fantasmas e recordar momentos bons. Craig Thompson teve a coragem necessária para escrever e desenhar uma das mais sensíveis graphic novels sobre a arte de crescer: Retalhos (Blankets).

Em Retalhos, Thompson narra a sua infância pobre (teve que dividir a cama com o irmão mais novo durante alguns anos, o que rendeu algumas brigas e muita diversão também), a sua relação com a Igreja (com medos, culpas, dúvidas), a sensação de ser o “freak” da turma e de não se sentir parte da realidade ao seu redor, a amizade e o frustrado romance com Raina, o término do colegial, a sua partida de casa e o retorno após apostar no que queria e melhor sabia fazer: desenhar. E em todos os momentos da sua vida, teve a neve como companhia, na qual deixava marcas profundas que durariam um breve momento.

Ao ler Retalhos, uma sensação familiar me envolveu, isso porque o texto e a narrativade Thompson são similares aos do mestre Will Eisner. Os personagens são retratados com uma sensibilidade ímpar, e não tem como ficar indiferente ao carinho que ele nutria pelo irmão menor – apesar de se culpar pela sua omissão em situações delicadas, fazendo o irmão passar por experiências constrangedoras – e por Raina, seu primeiro amor, que lhe fez a colcha de retalhos que batiza a obra.

Publicado pelo selo Quadrinhos na Cia., da prestigiada editora Companhia das Letras, Retalhos (592 páginas, P&B, R$ 49,00) ganhou prêmios importantes, como o Eisner e o Harvey (2003), e também o prêmio da crítica do Festival de Angoulême (2005).

Outros quadrinistas contemporâneos a Craig Thompson que escreveram graphic novels autobiográficas foram: David B. (Epiléptico), Alison Bechdel (Fun Home – uma tragicomédia em família) e Marjane Satrapi (Persépolis).

Todas essas graphic novels merecem ser lidas e, além disso, são títulos para se ter na estante e passar a vista de vez em quando.

Texto publicado no Asfixia em 22 de junho de 2009.

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