quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Rio de Janeiro continua lindo

Quando se está longe, a gente compreende melhor as cores do nosso país, o nosso povo, os nossos costumes.

Marcello Quintanilha, que antes assinava Marcello Gaú, comprovou que essa afirmativa é mais do que verdadeira com o álbum Sábado dos meus amores (63 páginas, colorido, capa dura, R$ 39,00), da Conrad Editora.

Morando a algum tempo em Barcelona, na Espanha, Quintanilha retrata diversas personagens brasileiríssimas, num sotaque carioca de ontem, ainda que atual, nas seis histórias em quadrinhos que compõem o já citado álbum. Algumas dessas histórias foram publicadas no Brasil, em revistas como a extinta General Visão.

Num tom prá lá de realista, o qual lhe rendeu o epíteto de “o Rosselini tupiniquim”, por Aldir Blanc, Quintanilha passeia nas asas de uma borboleta amarela, mostra o que uma superstição futebolística pode fazer com uma pessoa, expõe as marcas psicológicas que a escravidão deixou nos negros livres, conta como a criatividade de um coração apaixonado ajuda uma moça que está na alfabetização para adultos, brinca com os momentos nos quais a gente deixa a sorte escapar e finaliza com uma pendenga entre um policial e um “amarra-cachorro” de circo.

Escolher a história preferida de Sábado dos meus amores é complicado, mas confesso que “De como Djalma Branco perdeu o amigo em dia de jogo” foi a que mais me tocou. Tenho minhas superstições e sei o quão desagradável é quando alguém as viola.

O tema “futebol”, aliás, é comum nas obras do Quintanilha. Em Fealdade de Fabiano Gorila, por exemplo, ele homenageou o seu pai, que foi jogador de futebol no Rio de Janeiro, na década de 1950.

As histórias do Quintanilha retratam um Brasil com um quê de estética do cinema marginal, de Rogério Sganzerla e Julio Bressane, misturado com a sutil poetização da realidade, presente nos filmes de Vitório De Sica.

Há homens pançudos, crianças banguelas, mulheres de bobs no cabelo, pessoas iletradas, enfim, tudo o que não se vê em algumas HQs nacionais, pasteurizadas, que optam por copiar o modelo que vem de fora.

Texto publicado no Plog do Patrício Jr. em 24 de junho de 2009.

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